quarta-feira, 22 de junho de 2011

Deu no Ancelmo hoje (internet)‏


Enviado por Aydano André Motta -
20.6.2011 19h29m

FALTOU DIZER

A UPP que dá samba

A ocupação da Mangueira pode ser decisiva para redesenhar o cenário das grandes escolas de samba cariocas. A hegemonia da Beija-Flor, seguida por Unidos da Tijuca e Salgueiro, deve encarar agora a força verde e rosa da Estação Primeira. O nome do jogo é claro como a alvorada lá no morro, que beleza, em dia de sol: dinheiro. A comunidade de Cartola, Carlos Cachaça e Delegado será inundada por investimentos públicos e, especialmente, privados, com parcerias variadas e a consequente enxurrada de recursos.
Sufocada por dívidas há incontáveis carnavais, a escola sofre para sustentar a briga com alegorias e fantasias das rivais milionárias (e aqui se inclui a contratação dos profissionais de primeiro time, naturalmente mais caros). Consegue, na maioria das vezes, manter-se entre as primeiras por causa dos seus componentes, dos sambas-enredo e de sua lendária bateria - protagonista, aliás, do grande momento do desfile de 2011, a paradona(relembre a apoteose, abaixo).
Por décadas, a favela que garante a magia verde e rosa foi, ao mesmo tempo, encanto e maldição. Sequestrada pelo poder armado dos bandidos, a Estação Primeira teve pesados prejuízos - alguns deles, inconfessáveis - pela inevitável convivência. Agora, como se uma tempestade tivesse se dissipado, a escola transforma-se no ponto de partida de um museu a céu aberto. Estão lá, preservados, endereços fundamentais da cultura brasileira, como a casa onde viveu Cartola, ou os lugares que serviram de abrigo à formação de músicos espetaculares. Tudo à espera da visitação admirada das pessoas de bem.
Removidos os marginais do caminho, outra mazela espreita a escola de samba. A teimosa vocação para a discórdia que contamina a imensa maioria dos dirigentes é a próxima agenda no caminho da virtude. Como montéquios e capuletos do carnaval, os mangueirenses embrenham-se em brigas tão intensas quanto inúteis, que paralisam a administração de uma instituição da nossa cultura. Se os bambas respirarem fundo o ar pacificador que a ação governamental faz soprar, o desfile da Sapucaí ganhará um novo bicho-papão.
Em qualquer tempo, sob qualquer dominação, é sempre impressionante chegar ao Palácio do Samba e observar a favela gigante que lhe serve de moldura. Assim será - basta agora, à Mangueira, saber como virar o jogo.

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